O verão de 1979 é mais uma temporada de calor extremo em Trípoli, capital da Líbia, na costa do Mediterrâneo. Para o pequeno Suleiman, é tempo de férias, que ele divide entre as brincadeiras de rua e os cuidados com a mãe, cada vez mais "doente". O garoto acredita que o pai está fora do país, numa de suas frequentes viagens de negócios. "No país dos homens" é o livro de estreia de Hisham Matar e conta a história de um menino de nove anos que vê seu mundo infantil ser confrontado com o ambiente violento e opressor instaurado pelo regime ditatorial de Muammar al-Kadhafi, em 1969. Lentamente, as deliciosas brincadeiras de rua, os passeios ao mercado e as viagens animadas com os amigos vão dando lugar a um pesadelo de vozes estranhas que surgem ao telefone, homens armados que rondam a casa e vizinhos que desaparecem de repente – e só reaparecem ao serem enforcados ao vivo na televisão. É nesse ambiente sombrio que Suleiman precisa crescer rapidamente, enquanto a mãe ingere doses cada vez maiores de álcool, como se fosse algum tipo de remédio, e o pai se reúne às escondidas com amigos, planejando atacar o regime. Numa mistura inusitada de lirismo, espontaneidade e crítica política contundente, este romance em boa parte autobiográfico faz um retrato delicado de um lugar comandado – e destruído – pelos homens, um mundo em que a onipotência e a brutalidade andam muito perto da infância e da inocência.