Cecílio Jorge Carneiro nasceu em Paracatu, Minas Gerais, em 1911 e viveu até 1988. Desde tenra idade revelou tendências para a literatura, colaborando em jornais e revistas do país. Seu romance de estreia, "Memórias de cinco", publicado em 1939, surgiu quando a efervescência dos novos valores literários, revelados desde 1930, atingia o seu apogeu. Nessa obra o autor recorda seus dias de universitário, em paralelo à vida política e social de São Paulo. Estimulado, mais pelas falhas apontadas que pelos elogios recebidos, prosseguiu com afinco na trilha do romance, que lhe pareceu a forma adequada para a expressão de suas ideias e sentimentos a respeito do mundo e dos homens. "Pecado nos trópicos", o terceiro romance que Cecílio Jorge Carneiro apresenta ao nosso público, é fruto de uma viagem realizada nos sertões do alto Amazonas. Em suas páginas vivem lendas, mistérios e paixões da bárbara região. O homem, moldado neste ambiente em que extremas doçuras correm ao lado de extremos horrores, só sabe agir impelido por paixões extremas. Nos ardores da terra tropical, não há meio-termo: ou perverso ou santo. Mas Antenor, uma das figuras principais do romance, é vítima dos dois extremos. Caruba, a índia lúbrica, e Malu, a doce órfã, são dois amores que o torturam e o conduzem dos horrores infernais da luxúria aos páramos do êxtase angélico. Duas paixões extremas num único ser. Antenor é disputado pelo inferno e pelo céu, pelo pecado e pelo amor. No meio dos seringais e das febres da selva, a luta do homem contra o bárbaro e contra a estranha dualidade de sentimentos. Em torno dele se ferem outras lutas como a de Manuel Cobra, o seringueiro perverso, maltrata a sobrinha órfã e explora os trabalhadores do seringal, devorado pela cobiça. No meio da asfixiante atmosfera de paixões e crimes, eles são como uma janela que se abre para a verdadeira civilização, sem a qual nenhuma selva é digna de sair do seu primitivismo e dar um passo para o progresso.