Apresenta-se aqui o romance "Querência" do singular escritor Machado Florence, nascido em Minas Gerais, autor de "O desembargador ruival" e "A boçoroca", obras ambas confirmadas pela aceitação pública e apreciadas, com louvores, por muitos dos nossos mais abalizados críticos literários. A presente obra — que o autor afirma ser "romance" e "memórias", — reveste-se de excepcional cunho de originalidade pelo que se segue: — foi toda escrita em prosa ritmada, com 80% do seu todo em redondilhas maiores, perfeitos e metrificados heptassílabos; terá uns 12% de heptassílabos eufônicos, isto é, com manutenções ou separações dos ditongos; e os restantes 8% em hexassílabos e octassílabos. Assim não obstante e aparentemente vasada em prosa comum, está quase que integralmente metrificada. Estilo poemático, por isso mesmo, recheado de indisfarçáveis poemas. Acresce — ainda que metrificada — existir no contexto páginas inteiras de diálogos redigidos dentro da mais absoluta técnica da literatura teatral. Diálogos diretos, secos, objetivos e pessoais em que a ação, panoramas e circunstâncias vivem e se apresentam no discorrer dos próprios diálogos. Logo: prosa, poesia, teatro... Ainda assim, a estilística é por vezes variada e gongórica, retórica e pletórica, eclética de modalidades. Abrange aos mais diferentes processos da linguagem escrita, desde o lirismo poemático e delambido aos períodos exuberantes e farfalhudos, preciosos, bombásticos, empolados, pretensiosos, rendilhados e "fiamboyants". Um verbalismo verdadeiramente "tutti frutti". A quase totalidade dos enredos, não foi criada pelo Autor. Vem de velhos fatos acontecidos, — daí "Memórias". E mais, o autor é também personagem; pois comumente interfere e se imiscui pessoalmente nos assuntos descritos. E o mais grave: — por vezes chama o próprio Leitor a participar, opinar, e ser ele mesmo — o leitor — uma personagem atuante. Bom? Mau? Não se sabe.