A leitura dessa obra de Manuel Puig é um desafio para qualquer leitor, mesmo para o leitor escritor. Nele será impossível aplicar as inferências realizadas pela leitura de Francine Prose "Para ler como um escritor". Nesse caso, de Puig, é necessário ler como "fratura exposta", como ser livre de preconceitos, principalmente o linguístico, tao comum entre os "intelectuais". Contra o cenário claro e vasto do Rio, revive toda uma história de amor adolescente em uma cidade remota no interior do Brasil. O presente áspero, desolado e nu contrasta fortemente com a idade de ouro da paixão e do desejo destrutivo que inflama e corrói o corpo e a mente. Mas no fluxo da história, fissuras, questionamentos, espaços escuros se abrem: há peças que não se encaixam, algo viola o tempo do idílio, quebra a claridade e instala o mal-estar. É então que surge o verdadeiro tema deste livro: os disfarces, transfigurações e metáforas com que a memória, como um autocolante desbotado, reveste e descobre nas dobras da memória consciente. Assim, a história, celebração do bedonismo inseguro e febril do primeiro amor, é também, talvez antes de tudo, uma elegia a uma adolescência que talvez não tenha sido e uma implacável radiografia dos véus que o adulto interpõe entre o seu presente e seu passado.
Autoria |
Puig, Manuel (1932-1990) - aut |
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Assuntos |
Literatura argentina Romance Ficção |
Editora | Nova Fronteira |
Tipo | Livro |
Ano | c1982 |
Extensão | 202 p. |
Localização | 821.134.2(82) P979.13s 1982 |
Exemplares | 1 exemplar(es) |
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