"Serena" não só por se trata mais uma vez de uma personagem feminina que revê um momento histórico relevante (aqui, o começo da década de 70), mas, sobretudo, por permitir que o leitor reviva a discussão sobre os limites da literatura como reelaboração da realidade. Ao ser contratada pelo MI5, o Serviço Secreto Britânico, a protagonista Serena se vê como participante de uma mentira cujo objetivo é fomentar a criação de uma ficção. Isso porque ela é incumbida de estabelecer contato com um escritor a quem não pode contar que é uma espiã, nem que o dinheiro que ele passará a receber virá do Estado. Mas o contexto de toda essa armação é uma guerra muito real, num período bastante violento da história da Inglaterra, especialmente por causa da atividade do IRA. E, para Serena, o caso envolve ainda sua vida pessoal, tanto no que se refere a seu antigo amante, que a introduziu no MI5, quanto no que se refere ao escritor que é vítima do ardil, por quem acaba se apaixonando. Ela é, portanto, agente e vítima, personagem e criadora, num romance em que todos esses papéis são questionados com fervor. Ora, ao conhecermos a ficção de Tom Haley, o escritor que não sabe que está na folha de pagamento da Inteligência Britânica, já notamos essa curiosa relação entre o real e o fictício, mediada pelo criador. Mas será apenas quando concluirmos a leitura de Serena que teremos a verdadeira dimensão do grau que atingiu essa fusão, tanto na história que estamos lendo quanto na nossa relação com o livro e seus personagens. A literatura experimental, questionadora, pode adotar várias máscaras. Nesse romance, Ian McEwan a veste nos trajes mais discretos e, talvez por isso mesmo, mais eficientes.
Autoria |
McEwan, Ian - aut Galindo, Caetano Waldrigues - trl |
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Assuntos |
Romance Ficção Espionagem Literatura inglesa |
Editora | Companhia das Letras |
Tipo | Livro |
Ano | c2012 |
Extensão | 382 p. |
ISBN | 9788535921212 |
Localização | 821.111 M142.09se 2012 |
Exemplares | 1 exemplar(es) |
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